quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Koan e Mushin

Koan e Mushin
Veiculado em 30/07/2003
Monge Ryotan Tokuda
Córdoba, 21-10-83

A aula de hoje é sobre a técnica do koan. O sistema de koans. Esta aula eu já dei em Buenos Aires, e aqui a estou repetindo. Quando se começa a estudar o Zen, nos deparamos com esta palavra: koan. O que é o koan? Originalmente se divide esta palavra em Ko e An. Ko quer dizer público. An significa lei (ou caso). Isso então é Lei pública. Cada país tem suas leis. Os estados e municípios também tem leis diferentes. Por vezes com poderes políticos, pode-se alterar estas leis, mas na verdade, leis devem ser estáveis. HI LI KO KEN TEN. Hi quer dizer aquilo que está errado, Li aquilo que é lógico e certo, ko é a lei, ken quer dizer poderes e ten quer dizer correto. Resumindo, isto significa que uma coisa errada não pode superar a lógica, não pode burlar aquilo que está certo. Mesmo que pessoas que tenham poderes tentem alterar leis, essas pessoas não possuem contudo força para controlar a lei do universo. É nesse sentido, a esta lei pública, que não pode ser alterada, e que todo mundo tem que respeitar finalmente, esta lei a que temos que nos submeter em última instância, é a isto que o praticante Zen tem que finalmente se submeter. Estas perguntas e respostas.

Mas essa palavra koan dentro da escola Soto, é usada com outro sentido. Hoje em dia, este sistema de koan pertence mais à escola Rinzai.

Antes de entrarmos no que significa o koan, expliquemos sobre as cinco escolas do Zen historicamente. Hoje em dia apenas duas escolas continuam a transmitir, a escola Soto e a escola Rinzai. Entre essas escolas, existe intercâmbio até hoje. Eu pertenço à escola Soto, mas também treinei na Rinzai.

As características dessas escolas é que a Rinzai era a escola do Xogun, general, guerreiro, montado a cavalo, comandando as tropas, os cavalheiros, lanças, flechas, e assim a escola Rinzai esteve sempre ligada ao poder daquela época, do imperador, ou então dos guerreiros e governadores. Por isto, os maiores mosteiros da escola Rinzai estão localizados nas antigas capitais, como Kyoto, ou Kamakura. Dentro dessas duas grandes cidades, existem cinco templos oficiais, cinco mosteiros principais e dez mosteiros secundários. Esses mosteiros são antigos palácios do Imperador, que foram transformados em mosteiros. Os mestres de cada mosteiro eram Mestres Nacionais. Por isso a característica da escola Rinzai é imperial.

A escola Soto é de agricultores, lavradores. Como agricultores não chegam perto dos ricos e dos governadores, são pessoas que estão espalhadas pelo interior, pessoas anônimas, trabalhando a terra, sem mostrar autoridade e conhecimentos. Simplesmente trabalharam e assim chegaram a transmitir o ensinamento.

No Japão atualmente a escola Soto tem talvez quinze mil templos pelo Japão todo, enquanto que a escola Rinzai talvez tenha uns três mil. Mas esses três mil da escola Rinzai, estão todos localizados na cidade, nas capitais. E tem que dividir os três mil templos por 17. Porque cada um tem cinco linhas principais, 10 secundárias e cada um é uma linhagem diferente. Mas entre eles existe intercâmbio. Uma outra característica da escola Rinzai, é que eles utilizam o koan durante a meditação. A escola Soto durante a meditação não se utiliza do koan, mas sim do método Shikantaza (apenas sentar). Por isto, o treinamento Rinzai é muito agressivo, forte. Os mestres e os veteranos apertam o praticante até o canto, até o praticante começar a explodir. Assim é muito importante encontrar o mestre correto, porque senão o praticante fica louco.

A escola Soto não tem este tipo de coisa, treina simplesmente como na época do Buda, sentando, naturalmente, e quando surgem perguntas, indaga-se ao mestre e o mestre responde normalmente, não usando este tipo de koan com palavras paradoxais. Como máscaras estranhas, escondidas, para assustar as pessoas. Por isto a escola Soto é um treinamento muito brando, mas o mestre vê o progresso dos praticantes. Quando o caminho é longo, então é que se vê realmente a força do cavalo. Podemos assim ver se a força de vontade é verdadeira ou não, na continuação do treinamento.

Existem outras seitas que desapareceram na história, que acabaram sendo assimiladas por estas duas escolas principais, porque quando não aparece um bom discípulo, a escola termina. Por isto, a qualidade do mestre correto, bom ou não, grande ou pequeno, depende de seus discípulos. Mesmo que o mestre seja muito inteligente, muito famoso, isto não quer dizer que ele seja grande. Se ele não conseguir criar discípulos realmente bons, então não se trata de um bom mestre. Assim, para não terminar sua linhagem, cada mestre dá atenção para a criação discípulos. Quando o discípulo ainda está sentindo muito agradecimento para com seu mestre, ele ainda é apenas um discípulo secundário. Quando o relacionamento entre mestre e discípulo é como de inimigos talvez então esse discípulo possa transmitir o Dharma.

Se o discípulo tem a força e a mesma altura do mestre, de ombro a ombro, ele tem somente a metade da força do mestre. Se o discípulo conseguir subir nos ombros do mestre, ele pode realmente transmitir o ensinamento. De qualquer modo, mundialmente o Zen está se espalhando e podemos enxergar que linha de mestres estão ficando. O Zen foi apresentado ao Ocidente através dos livros de Daisetz Suzuki, mas prática mesmo existia muito pouca, era só muita leitura. Mas hoje em dia, esta moda já passou, e no mundo ocidental o Zen começa a deitar raízes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário